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Plano de Sarkozy para redesenhar Paris acaba menos ousado. Presidente pensou em projetos arquitetônicos faraônicos, mas seu grande legado para a cidade vai ser na infraestrutura.
Todo presidente da Quinta República da França teve seu projeto faraônico, através do qual ele deixaria sua marca na capital e na cultura francesa.
François Mitterrand, socialista veemente conhecido como "A Esfinge", deixou a nova biblioteca nacional francesa e, para continuar no tema, a controversa pirâmide de vidro no Louvre. Jacques Chirac deixou o Musée du Quai Branly, um museu antropológico, com o projeto polêmico do arquiteto francês Jean Nouvel.
O presidente Nicolas Sarkozy quer deixar nada mais, nada menos que "Le Grand Paris". Em mais de um ano de debates, houve ideias e projetos espetaculares por parte de dez equipes de arquitetos famosos, unidos a convite do presidente para repensar Paris como uma cidade integrada com seus subúrbios e responsável em sua pegada ambiental.
Antoine Grumbach imagina Paris se esticando ao longo do Sena para Le Havre e o mar. Roland Castro, cuja equipe incluiu um sociólogo e um filósofo, propôs um parque de cem hectares rodeado por arranha-céus em La Courneuve, um dos subúrbios parisienses. Richard Rogers planeja jardins panorâmicos e parques construídos acima de linhas ferroviárias. Yves Lion vê Paris brotando campos e florestas, com cidadãos capazes de cultivar seus próprios vegetais.
Os arquitetos ofereceram fitas e balões, mas poucos desses planos têm probabilidade de serem executados. Pressionado pela política e por financiamentos, Sarkozy concluiu que irá buscar objetivos menores, mais corajosos e essencialmente práticos. A ambição permanece a mesma: tentar trazer uma melhoria no transporte e na habitação da cidade, estimular o desenvolvimento econômico e quebrar a camisa-de-força de uma "parede" artificial ao redor de uma cidade relativamente pequena – uma parede representada por uma rodovia circular de aproximadamente 35 quilômetros, que separa Paris de vários subúrbios (cidades legalmente separadas) – onde muitos trabalhadores parisienses moram.
No entanto, isso deixou um problema para o presidente francês. O que seria tão grandioso em sua Grand Paris?
Sua resposta foi, simplesmente, infraestrutura. Em discurso realizado no final de abril, Sarkozy afirmou que deixaria os sonhos de reformas para outra geração. Ele disse que o estado ofereceria cerca de US$ 50 bilhões para o que ele chamou de propostas complementares para o serviço estendido de metrô que permitira às pessoas do subúrbio viajar entre eles sem ter de entrar em Paris, melhorando as linhas de metrô e trem existentes e saturadas, conectar à malha alguns dos bairros parisienses mais marginalizados e pobres e, finalmente, conectar todos os três aeroportos de Paris a um transporte público eficiente.
Entretanto, a construção só deve começar a partir de 2012, e tomaria pelo menos dez anos.
O conselho regional já tinha esboçado ideias para uma linha de metrô circular chamada de Arc Express, com um custo estimado em US$ 8,4 bilhões, para conectar os subúrbios mais internos.
Porém, a ideia de Sarkozy é uma linha de metrô automatizada extravagante, conhecida como Grand 8, pois se desloca ao redor de Paris em um círculo mais amplo e também a corta, parecendo o número 8. Alguns brincam que Grand Infinita pode ser um nome mais adequado, devido a sua extensão (cerca de 130 quilômetros), a dificuldade de adquirir a terra, e o custo, de aproximadamente US$ 25, incluindo melhorias e extensões necessárias para três linhas existentes.
Enquanto Sarkozy tem se concentrado no transporte, a habitação é outro componente crucial do plano. Paris já está terrivelmente superlotada, com suas minorias mais pobres localizadas em grandes projetos públicos de habitação nos anéis externos, ou subúrbios da cidade. Ainda assim, com apenas 160 metros quadrados de terra e uma severa restrição de altura de 37 metros para edifícios, existe uma grave falta de habitação.
Para suprir a demanda, o governo e a indústria privada deveriam construir 70 mil unidades habitacionais por ano dentro de Paris. Entretanto, só construíram 35 mil. Sarkozy agora apoia a meta anual de 70 mil como parte de plano, incluindo mais 19 mil unidades habitacionais públicas. Oficiais têm falado em uma parceria público-privada para criar novos polos de desenvolvimento e habitação, viabilizadas por transporte fácil e investimento inteligente.
Arranha-céus são uma parte inevitável da resposta, apesar da descomunal oposição estética e cultural a eles por parte de muitos franceses – eles adoram arranha-céus em Nova York, Tóquio ou Xangai, mas detestam os poucos existentes em Paris. Uma razão é o novo pesadelo arquitetônico da Torre Montparnasse, que é amplamente considerada como um equívoco.
O prefeito socialista de Paris, Bertrand Delanoe, já iniciou, com coragem, o debate em relação à construção de arranha-céus nas bordas de Paris e finalmente ganhou o apoio de Sarkozy, que afirmou não ser contra altas construções, "desde que fossem bonitas".
A crise econômica criou todo tipo de dificuldade em todas as cidades grandes, em termos de financiamento, investimento e espaços comerciais. No entanto, o estado é um agente dominante na França, e o presidente é praticamente da realeza. O secretário de estado para o desenvolvimento da região da capital, Christian Blanc, disse que a crise "simplesmente nos obriga a pensar de forma diferente", acrescentando que, mesmo no setor privado, "existe dinheiro para bons projetos".
Existe outro aspecto do plano. Sarkozy, que ganhou uma péssima reputação com algumas afirmações rígidas durante os conflitos suburbanos de 2005, quando ele era ministro do interior, está se movendo para criar uma "polícia da Grand Paris". Ele solicita uma super prefeitura para coordenar toda a polícia de Paris e "o pequeno grupo" dos subúrbios mais internos – Hauts-de-Seine, Seine-St.-Denis e Val-de-Marne – que ele não conseguiu incorporar politicamente a Paris.
"Somente 45% dos delinquentes moram dentro da capital", disse ele. "Os marginais não têm fronteiras, particularmente os que pertencem a gangues".
Pode ser um longo caminho até alcançar os jardins panorâmicos e as florestas urbanas, mas trata-se de boa política.
Resta saber o que sobrará da Paris histórica, da Paris de ruas estreitas do Quartier Latin, dos boulevards de Haussmann, se algumas dessas propostas mais radicais forem aceitas por Sarkozy e começarem a ser implantadas. É esperado para esses dias a revelação do projeto vencedor. Só então saberemos que rumos Paris poderá tomar.
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